sugestão: ler ouvindo Caetano é sempre uma boa ideia, mas neste caso aqui #sóvai
Saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim, eu tenho sim
E sim, eu tenho uma playlist para minha fossa profissional! Já falei que minha vida tem trilha sonora ne?!
O luto pela morte física de alguém demorou a chegar na minha vida. Ao menos aquele que eu sinta marcado em fogo na pele e na alma. Quando eu tinha 3 anos, meu tio foi assassinado, mas eu não me lembro. Nem dele, a quem eu aparentemente era grudada e amava muito, nem do acontecido.
Depois disso, algumas pessoas importantes, para quem eu amo, se foram. E eu vivi o luto delas com elas.
A minha primeira perda, daquelas que nos derruba por completo e nos faz querer morrer um pouco junto, só chegou quando perdi Jerimum (outubro/2023), meu Pug de nove anos. Meu primogênito, o meu companheiro das horas boas e ruins há quase dez anos.
Quando ele se foi, escrevi, pela primeira vez, sobre como nada nos prepara para a dor deste tipo de perda, assim como não nos prepara para esse amor.









Mal sabia eu que, menos de um ano depois, a perda me atingiria novamente. Em setembro do ano seguinte perdi meu avô.

Meu avô se foi em meio a uma das fases mais estranhas da minha vida. Foi uma dor dura, também porque me dei conta de como fazia tempo que eu não ia vê-lo (ok que ele fazia questão de se esconder no meio da montanha). Mais do que isso , oi com a perda dele que eu me questionei muito profundamente: estou vivendo a vida que eu gostaria de viver?
Como é comum, a morte nos faz pensar sobre a vida.
A de quem perdemos e a nossa!
A morte é um excelente motivo para buscar um novo olhar para a vida
“A morte é um dia que vale a pena viver” foi uma leitura profunda quando o li em 2020 (sim, eu sei!), mas eu realmente só consegui incoroporar, com a devida intensidade, quando senti o bafo quente da perda me assombrando.
Literal e metaforicamente!
Sim, porque neste último ano a Tayná que eu sempre conheci também morreu.
Um pouco por vez e de muitas formas diferentes. Tantas, que até demorei a identificar que o grande luto destes últimos doze meses era por estar perdendo a mim mesma!
Semana passada, falamos sobre isso na terapia. Afinal, esta é minha última semana oficialmente empregada.
A partir de 01 de abril estarei oficialmente no meu sabático e — se tudo der certo — quando eu voltar a trabalhar, não será com vínculo empregatício em nenhuma empresa.
A conversa começou falando sobre esse meu sentimento de luto e suas fases: negação; raiva; barganha; depressão; aceitação.
Ela me pediu para descrever todos os eventos deste ano que senti como um luto e em quais fases eu me via em relação a eles.
me dar conta de que uma pessoa que eu admirava e gostava muito era, na verdade, um assediador contumaz que iria fazer da minha vida um inferno;
aceitar que eu teria que abrir mão do trabalho dos meus sonhos, do meu time, colegas, projetos com que tanto sonhei, para sobreviver (e aí talvez eu esteja falando literalmente, pois minha autoestima e saúde estavam desandando em uma velocidade desesperadora!);
quando de fato saí e precisei barganhar comigo o que fazer, para onde ir, como operacionalizar isso fisicamente e internamente;
me dar conta de como, com o crachá se foram também tantas pessoas. Constatar que, para muito mais gente do que eu gostaria de admitir, não gostavam tanto de mim quanto eu gostava delas;
me ver tendo um colapso e cair de um jeito que nunca imaginei. Me ver improdutiva, lenta, sem concentração ou foco, ansiosa, deprimida, apavorada e não me reconhecer mais;
Todos esses foram momentos em que passei por uma ou mais fases do luto e, não necessariamente, cheguei à aceitação.
Enquanto eu ia falando, porém, fui também me dando conta de que a verdadeira perda, a verdadeira morte que eu lamentava, era a minha. O luto pela Tayná — e seus sonhos, crenças, amizades, confiança — que nunca mais seria a mesma.
Principalmente, como tenho falado — talvez excessivamente — por me confrontar com o fato de que eu não fazia ideia de quem eu era para além do trabalho. Não é que eu não sabia me definir, era realmente não saber. Todos os adjetivos com que me descreveriam, estavam relacionados a quem eu era, seja como as pessoas me viam ou eu me via) enquanto profissional.
Eu vivi — e estou vivendo — o luto por mim mesma: da minha idealização do trabalho, de expectativas sobre pessoas e sobre o mundo que só existiam na minha cabeça.
E como dói…
Uma espécie de morte em vida para, quem sabe, renascer em uma nova pele.
A dor do luto é proporcional à intensidade do amor vivido na relação que foi rompida pela morte, mas também é por meio desse amor que conseguiremos nos reconstruir
Eu fui feliz na minha “vida passada”. Em todas elas. Eu fui recompensada de muitas formas, me senti valorizada, amada, necessária. Não quero jamais minimizar ou invalidar tudo que eu vivi e que me trouxe até aqui.
Mas passei a olhar para este luto, que engloba muitos aspectos, acontecimentos e camadas, através das fases que preciso navegar. Algumas eu já enfrentei, outras sigo encarando, de frente ou de lado. Outras estão mais longe, ou vem em ondas.
Nomear meus sentimentos, os estágios em que me encontro, os medos que preciso encarar, aceitar minha raiva por tudo que perdi, incluindo as pessoas que me machucaram, me abandonaram, me decepcionaram com suas atitudes que, pela minha ótica eu enxerguei como covardia, a tristeza que o sentimento de injustiça me despertou. O pânico de nunca mais ser tão feliz profissionalmente e me abrir para o meu novo eu.
Tem sido uma montanha russa de emoções, de dias bons e dias horríveis. Dias de altíssima energia para agradecer o sol no rosto e outros em que não quero nem sair da cama (embora saia, até porque ne, mãe de humano e de pet).
É mágico como a dor passa quando aceitamos a sua presença. Olhemos para a dor de frente, ela tem nome e sobrenome. Quando reconhecemos esse sofrimento, ele quase sempre se encolhe. Quando negamos, ele se apodera da nossa vida inteira.
Eu não quero que esse luto se apodere da minha vida.
Eu não quero desistir de nenhuma versão de mim!
Mesmo que dê saudade de quem fui, de quem eu amava, do que realizei e até mesmo de tudo que sonhei realizar e não realizarei (ao menos não naquele papel, na forma que eu imaginava!).
Mas o tempo passa no tempo dele, indiferente à torcida para apressar ou retardar sua velocidade.
Aceitar o tempo necessário para curar (ou diminuir) minhas dores. Para a pele fazer novas cicatrizes sobre a pele, já tão machucada, e reconstruída, é um dos meus maiores desafios.
Não me entregar à ideia — por vezes confortável — de ficar enclausurada, me mantendo nesse sabático eternamente, simplesmente porque tenho medo de voltar ao mercado e me machucar de novo. Ou, pior, porque me apavora a ideia de recair em meus antigos padrões, são meus principais objetivos.
Costumo fazer uma analogia do meu vício em trabalho com o tratamento de qualquer outra coisa. Peguemos, por exemplo, o álcool.
Hoje é como se eu estivesse em uma clínica de recuperação. No início do processo ainda. Mal recebo visitas, da família mais próxima apenas. Faço atividades terapêuticas o tempo todo, estou cercada da minha rede de apoio e longe dos perigos noturnos.
E como será quando eu voltar para o mundo? Quando eu sair da “clínica”?
Pior, na minha analogia, é como se eu fosse adicta ao alcool e trabalhasse em um bar.
Como vai ser quando eu precisar voltar a trabalhar no bar? Quando meu coração bater acelerado pelo trabalho que amo e que me faz esquecer das horas passando, da comida, que tenho filho e marido me esperando. Como vai ser quando eu tentar enganar a mim mesma de que é “só uma dose” e “paro quando eu quiser”?
Bem, assim como aprendi frequentando o ALANON por décadas, tudo o que posso fazer é “ficar sóbria pelas próximas 24h”, vivendo um dia de cada vez e, sempre me lembrando da oração da serenidade:
Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras.
Bom, dia 01 vem aí minha despedida oficial da Amazon, do mundo corporativo e da Tayná que fui. Vai ter lágrimas, pote de sorvete e retrospectiva! #soudessas
Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz
Biscoitos e lookinhos
sim, talvez esta newsletter seja apenas uma desculpa para eu me sentir bonita e gostosa
spoiler do meu ensaio no Projeto Muse
seguimos firmes — não tão fortes — na evolução do Twerk e do Pole com a maravilhosa Babi Stemps do Movimento Twerk, no Gravitarte.
E eu posso provar com esse vídeozinho aqui 👇🏻(liga o 🔈)
Diquinhas Com amor, Tay
ainda na vibe das reflexões da Taissa Maia, sobre Anora e o tr@b@Lh0 $3*u@l, gostei muito desse artigo na Jacobin Brasil.
news que amei ler recentemente:
disparada em número 1, essa edição aqui da
está absurdamente D E L I C I O S A! Uma das coisas mais legais que li na vida. Este ano, certamente…eu tô amando tudo o que leio do
, mas nessas duas edições aqui ele se superou:
ainda estou meio perdida com o uso do Chat aqui do Subs. Deixei umas mensagens lá.
então, entra lá e bora bater papo!
deixei no Chat também lá as respostas com os nomes das mulheres que aparecem nos cards da News passada.


Memes que Curam Mais que Terapia
Avisinhos ⚠
📚 como todas as 4 pessoas que votaram na enquete sobre sortear um livro votaram SIM, em março vou sortear justamente o livro A morte é um dia que vale a pena viver, da Ana Claudia Quintana Arantes de quem emprestei todas as citações desta edição. Não faço a menor ideia ainda de como fazer o sorteio, mas vou descobrir e assim faço uma única viagem aos Correios porque meu nível de procrastinação nisso está altíssimo (desculpa amoras que ainda não receberam seus livros! prometo que chegarão e terá valido a pensa a espera!).
PS: todos os meus livros ainda estão encaixotados, então espero que esta também seja a minha motivação para mexer nisso!
Bom, por hoje é só meu povo…
Com amor, Tay ❤️
Ahhhh e se você chegou agora, confere aqui as edições passadas dessa cartinha que sai toda semana com o compilado do meu mundinho.
belo texto! obrigado por demonstrar sua vulnerabilidade. desejo só o melhor pra você ❤️ fico honrado por estar nas indicações
Amiga, primeiramente, um abracinho. Deve ser muito difícil viver esse processo que você tá encarando, e eu só posso desejar que a dor dure pouco e em breve renasça (ou nasça?) uma Tay feliz, gentil consigo mesma, leve e resiliente.
Nada com nada, mas você já viu Severance? Talvez seja uma boa pedida pro sabático. Tudo sobre essa discussão da personalidade dentro e fora do ambiente de trabalho - com tiradas bem inteligentes sobre tudo que envolve o ambiente corporativo, que, só quem conhece, conhece, rs.
Um beijo!