#10 Com amor, Tay ❤️- voltamos à programação normal (?)
Surto, Tretas e Biscoitos (Cafeínados)☕🔥🍪
sugestão: ler ouvindo Le chemin inconnnu, música linda do My Marga, meu amigo querido e artista incrível ❤️
“we’ll always have Paris”
Descansar sempre foi um enorme desafio para mim. Desconectar realmente das coisas que fazem meu cérebro ferver e meu coração palpitar acelerado.
E, claro, que viagens são um dos recursos mais poderosos para essa desconexão. Conhecer novas culturas, focar na beleza da arte ou da natureza de diferentes lugares. Experimentar novos sabores, texturas, cores, cheiros. Além disso, parece que há uma magia no deslocamento físico-espacial dos nossos problemas. Viajar sempre foi minha principal válvula de escape. Acredito que da maioria das pessoas que tem a oportunidade de realizar viagens e fugir um pouco, também seja.
Eu já viajei um montão. Tenho vários passaportes muito carimbados, mas a maioria dessas viagens foram a trabalho. Quando as pessoas me perguntam “você conhece tal lugar?” frequentemente respondo: “eu já estive lá, mas não posso dizer que conheça!”. Já fui umas 5 vezes para NY, todas a trabalho e não conheço quase nenhum ponto turístico. E o mesmo vale para tantos outros lugares, no Brasil e fora do Brasil.
No caso de Paris, eu estive uma vez muito pequena, quando meus avós me levaram para a Itália (meus pais foram antes e eu só me juntei a eles um ano depois) e, depois, em algumas conexões voando para outros lugares em que tive a chance de descer e explorar um pouquinho por algumas horas.
E essa viagem veio na hora mais certa e mais errada possível. Explico: eu estava desesperadamente precisando deste momento de afastamento físico de tudo e de todos que não sejam do meu círculo mais íntimo, mas ela acabou ficando no meio da nossa mudança e, claro, isso por si só já é em si caótico, e do meu tratamento de burnout (que segue a todo vapor!).
A viagem para Paris e Modena foi meu principal “projeto” neste momento de desaceleração total. Não deu para fazer tudo, fiquei tensa em alguns momentos com medo de dar errado o que planejei e, principalmente, me sentindo confusa entre a culpa do privilégio e a gratidão pela oportunidade de estar vivendo este momento.
Este sentimento me acompanha há muito tempo, e sempre que me vejo vivendo exatamente tudo que sempre sonhei, me sinto culpada por, de certa forma, ter “deixado para trás” o lugar de onde vim e, para o qual, sempre sinto que algum dia voltarei. Um fantasma que me persegue o tempo inteiro: a sensação de não pertencer plenamente a este lugar.
Esta edição da News da
descreveu exatamente este sentir tão difícil de ser nomeado:Ao final, ela arremata:
Some-se às minhas angústias pessoais, a sensação de “o mundo caindo, guerras, genocídios, fome, bilionários tomando todo o poder e um mundo distopicamente zombieland se avizinhando cada vez mais, e eu aqui viajando para Paris para "descansar a cabeça”. A boa e velha contradição.
Tem aí também um quê de autoimportância que tenho cada vez mais combatido, tentando não perder a esperança e o otimismo da vontade, aliado à responsabilidade do que minhas ações alcançam.
Não faria diferença nenhuma para o mundo eu viajar ou não. Eu gozar ou não desse descanso e em que termos. Faz muita diferença para mim, para minha saúde mental e para o trabalho que quero poder voltar a fazer com qualidade e dedicação. Isso não significa que consiga (ou queira) normalizar o tamanho da injustiça de tão pouca gente ter acesso ao tratamento adequado, a oportunidade de experienciar estas experiências e um descanso frequente para recarregar as energias em todos os sentidos. Afinal de contas, já diria Emma Goldman (1869-1940):
se eu não puder dançar, não é a minha revolução

No fim, o tema volta ao que mais importa: condições dignas de trabalho, a falência do capitalismo e o adoecimento que as atuais relações de trabalho e de classe imprimem à sociedade a à nossa vida.
Crise de saúde mental: Brasil tem maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 10 anos
Pensei muito sobre isso passeando pela suntuosidade da capital francesa, sobre colonialismo, exploração, e também sobre revolução1, luta de classes e a opressão cruel de belíssimas tentativas de mudança radical. Me emocionei ao pisar no solo da Comuna de Paris2 e de grandes mentes do Maio de 68 que ali pensaram tantas novidades que deram o tom para conceitos e práticas que ainda hoje influenciam nosso fazer político.
A Comuna de Paris foi a primeira experiência histórica de tomada de poder da classe trabalhadora, cujo significado colocou-a como referencial para as lutas de emancipação social. Foi uma revolução contra o Estado. A forma política “finalmente encontrada”, meio orgânico de ação que visava um trânsito socialista, uma nova forma social sem classes, a poesia do futuro. O heroísmo da classe operária na luta contra os usurpadores das fontes de vida foi um exemplo que a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) tentou imortalizar. Marx, secretário da AIT, dando continuidade aos combates da Comuna e investindo contra as calúnias e mentiras dos jornais burgueses, dissemina as virtudes da República do Trabalho: “Que é a Comuna, essa esfinge tão atordoante para o espírito burguês?”. A essa pergunta o leitor encontrará respostas claras, minuciosas, concretas, ao estilo do rigor marxiano, no conjunto de escritos selecionados para compor esta obra.
Trecho da Apresentação escrita por Antonio Rago Filho ao A guerra civil na França, escrito em 1871, publicado no Brasil pela Boitempo em 2011.
Maio de 68: a história de um movimento político
No mais, deixo vocês com alguns registros dessa viagem gelada e deliciosa na terra do croissant.









“Life is what happens to you while you’re busy making other plans.” - John Lennon
Abro o olho e me pego, quase sem perceber, abrindo o Google Calendar para planejar… a minha pausa. A pausa que eu mesma decidi tirar para respirar, para me recuperar, para não ter que encaixar a vida em blocos de 30 minutos. No automático, logo que saí da crise mais grave na qual desabei e mal tinha controle do meu próprio corpo, minha primeira atitude foi estruturar o descanso, medir o que não deveria ser medido, transformar alívio em produtividade (ainda que eu quisesse chamá-la de outro nome para me convencer de aquilo não era trabalho!).
Desaprender a planejar absolutamente tudo parece uma liberdade imensa—até que percebo o desconforto enorme que me traz. Há dias em que me sinto flutuando, sem referências, como se precisasse de um mapa até para me perder. O mundo ao redor continua girando na velocidade da entrega, do progresso, da próxima meta. E eu, que sempre me senti segura tendo um plano, agora me vejo diante de um vazio que não sei bem como preencher.
E então, pego o celular.
Abro o Instagram sem pensar, só para me distrair, e lá está ela: a sensação de que todo mundo está vivendo melhor do que eu. Todos estão criando, conquistando, aprendendo algo novo. Mesmo aqueles que dizem estar desacelerando parecem fazer isso de um jeito bonito, intencional, quase performático. A xícara de chá estrategicamente posicionada, o diário aberto na página perfeita, o "slow living" que ainda assim tem cara de realização.
E eu? Estou aqui, vendo a vida passar, sem produzir, sem executar, sem planos concretos para o futuro. Cuidando da casa, fazendo faxina para desestressar, vendo novela, tentando me redescobrir, lidando com uma rotina de recuperação que, para o mundo, pode parecer um grande nada. Mas para mim, é um esforço diário para não recair – ou ao menos tentar – nos antigos padrões que me adoeceram.
E logo vem também a surpresa ao me deparar com estes sentimentos. Logo eu que sempre defendi com unhas e dentes que nunca se deve comparar o nosso camarim com o palco alheio. Mais um ponto para o cuspe pro alto que cai bem no meio da minha testa. E daqueles bem pegajosos e nojentos.
Ao mesmo tempo, sei que até essa pausa, por mais desconfortável que seja, é um privilégio. Descansar, hoje, é quase um ato de resistência. Não é sobre “acordar devagar”, fazer skincare ou meditar ao nascer do sol – porque quem realmente pode se dar esse luxo? O trabalho exaustivo não é um erro do sistema, é parte do design. Talvez seja mesmo o código fonte (desculpem ai devs se minha analogia tech fizer zero sentido!).
A maioria das pessoas não pode simplesmente parar. A escala 6x1, os salários que mal cobrem o básico, as cidades que não oferecem espaços gratuitos de lazer e descanso, as desigualdades de gênero, raça e classe que sobrecarregam sempre os mais vulneráveis – tudo isso foi arquitetado para que estejamos sempre cansados demais para questionar o próprio cansaço.
Mas se queremos transformação de verdade, precisamos reivindicar o descanso. Não como um prêmio por produtividade, mas como um direito universal! O descanso como um direito humano fundamental. Inalienável, inegociável, indivisível.
Queremos um mundo mais justo? Então precisamos começar exigindo condições para que todas as pessoas possam existir além do trabalho. Precisamos de renda digna, de cidades acessíveis, de cultura e lazer que não sejam privilégios. A revolução também passa por poder dormir bem, por ter tempo para respirar, para estar com quem se ama, para simplesmente ser.
E estar presente!
Nem sempre é fácil (nunca, na verdade!), mas se para você for possível, resista!
Com março se avizinhando, recebi alguns contatos pedindo orçamento para palestras no 8M. Foi absolutamente difícil responder agradecendo, mas deixando claro que não estou trabalhando e somente voltarei no segundo semestre. Foi com os dedos tremendo que recusei. Foi cheia de medo de me tornar — cada dia mais — irrelevante.
pausa para contar que, logo após todas essas reflexões e momentos de fincar minha intenção no que me propus, a
meteu mais essa News perfeita que foi como um abraço apertado e quentinho.O desespero por relevância é a maldição que afunda um monte de marcas, um monte de carreiras. Num mundo tão barulhento, rápido e cheio de informação, a consistência é mágica.
Meu tratamento tem sido um conjunto inseparável de descanso, medicação, exercício, alimentação equilibrada, sono em dia. Mas também tem sido sobre desconectar do online e me reconectar com o offline. Estar presente nas minhas interações, não apenas responder mensagens no automático. Viver momentos de afeto com intenção, mas também respeitar meus momentos de solidão, sem preenchê-los compulsivamente com estímulos externos.
Me permitir ser irrelevante, enquanto jogo as pedrinhas que irão pavimentar meus novos caminhos tem sido uma parte importante desta jornada cheia de curvas, subidas, descidas, pausas e chão irregular.
E talvez seja isso que a vida tem tentado me ensinar enquanto eu, distraída, ainda tentava fazer planos para vivê-la.
Biscoitos e lookinhos -
sim, talvez esta newsletter seja apenas uma desculpa para eu me sentir bonita e gostosa









queria falar do Oscar, mas… todo mundo já falou tudo que tinha para falar, então vou apenas deixar aqui os meus memes preferidos deste momento histórico! (#chupaEmiliaPerez).
o que está rolando por aqui…
estou fazendo o curso de narrativas longas da
e está sendoI N C R Í V E L! Tenho conseguido escrever um pouco todos os dias e isso tem me alimentado muito! Vem aí alguns contos, textos soltos e, espero, meu romance! (além do livro de não ficção sobre assédio no mundo do trabalho!)
a mudança segue trazendo aqueles desafios clássicos de problemas de obra, mas está sendo uma delícia cuidar da minha casinha e construir cada cantinho do nosso jeitinho.
aulas de Twerk e Pole voltaram e a dança tem sido mais uma válvula de escape salvadora! em breve os videozinhos voltam!
Tapioca está cada vez mais sapeca e fofa. Cacá me pediu com muita insitência charmosa que fizéssemos uma festinha de mesversário com seus melhores amigos e assim fizemos. Semana que vem ela está liberada para passear e eu não vejo a hora (e mesmo sem saber, tenho certeza que ela também!)






Avisinhos ⚠
📚 estou atrasada com a entrega dos livrinhos das apoiadoras pagantes, por razões de CAOS, mas eles vão chegar ainda em março! em todo caso, estou com vontade de sortear, entre todas as pessoas assinantes, um livro por mês para fazer a energia aqui desta acumuladora de livros circular. O que acham dessa ideia?
📣fiquem ligades que na próxima News vai rolar uma surpresa (nada demais, a não ser uma fofoca da minha vida kkkk) e espero que gostem e mandem comentários e opiniões!
Bom, é isso galerinha… temas para falar não faltam, mas retomando aos pouquinhos que é o que tem para hoje!
Um beijo e um xêro,
Com amor, Tay ❤️
Ahhhh e se você chegou agora, confere aqui as edições passadas dessa cartinha que sai toda semana com o compilado do meu mundinho.
Se você quiser se aprofundar mais sobre importantes debates historiográficos, recomendo sem medo o Leitura ObrigaHISTÓRIA. Aqui alguns episódios sobre a França e seus diferentes momentos, inclusive desconstruindo mitos e senso comum (as grandes pragas de todas as Ciências Humanas: Robespierre: vida e memória após a revolução francesa, Revolução Francesa: história e debates sobre seu legado, Iluminismo: o que você precisa saber para entender
Para saber mais sobre a Comuna de Paris: A guerra civil na França; Destruir o Estado, emancipar os trabalhadores! Lições da Comuna de Paris de 1871
Amei ler esse texto e amei saber um pouquinho de como anda a vida ❤️ se quiser falar mais sobre como foi Paris, vou amar ler também 😌
Adoro ler e aprender com vc! Um abraço e bom descanso, querida!