#9 Com amor, Tay ❤️- serotoninas, tapioca e flores
Surto, Tretas e Biscoitos (Cafeínados)☕🔥🍪
sugestão: ler ouvindo Dog days are over (they are not, I know, but I like to think so…)
Na News#8, da semana passada, compartilhei com vocês o triplex que minha psi alugou na minha cabeça e que ocupou boa parte dos meus pensamentos nesta semana.
O que diferencia “trabalho” e “pessoal” na sua vida?
Para tentar responder, repassei na minha memória textos sociológicos sobre trabalho, a visão economicista e a marxista da coisa e, principalmente, fui acessar minha história e relação com o trabalho desde que me entendo por gente.
Percebi — surpreendendo um total de ZERO pessoas — que, desde muito cedo, trabalho, para mim, sempre foi tudo aquilo que faço sim por amor, sim para “evoluir” na carreira e ganhar dinheiro (afinal de contas, né, boletos!), mas também para deixar um legado, para fazer bem-feito e oferecer algo de valor para os outros, para a comunidade daquele contexto (escola, empresa, ONG, academia, cuidados ou qualquer outra coisa que eu entendesse que deveria fazer bem-feito ou nem fazer) e para a sociedade.
Até aí, tudo bem. Pode parecer algo bonito e inspirador de se colocar em posts motivacionais, mas a questão latente que fica é: quando passei a definir o meu valor no trabalho (seja ele qual for) como o meu valor enquanto pessoa?
Quando e como foi que essas coisas começaram a se misturar de tal forma que, hoje, busco aprender a ficar “sem trabalho” (e aspas, muitas aspas, porque isso não existe quando estamos em sociedade cuidando uns dos outros, especialmente quando somos mães — mas não apenas!). Mas, chamemos aqui de trabalho o que se considera um trabalho formal,. Algum dia volto a falar sobre isso e sobre por que trabalho e cuidado não são necessariamente a mesma coisa, mas também são, em alguns momentos — mas isso também seria trabalho, visto que é meu campo de pesquisa (RIP).
Por enquanto, deixo com vocês uma das minhas citações preferidas da Joan Tronto1 e um trechinho da minha dissertação de mestrado:
O cuidado é uma parte essencial da vida humana, seja considerando as definições mais amplas de cuidado ou aquelas mais restritas, que o veem como atividades voltadas a atender às necessidades de pessoas vulneráveis, muitas vezes em contextos de interação direta. Nenhuma explicação sobre a sociedade humana pode ser plenamente adequada sem também considerar como serão atendidas as necessidades de cuidado de crianças, idosos e enfermos. (TRONTO, 2015, p. 29) tradução própria.
O bom cuidado, para Tronto (2013) deveria atender às necessidades da pessoa cuidada, sem prejudicar ou sobrecarregar os cuidadores ou qualquer outra pessoa. O mau cuidado, por sua vez, tem características específicas: vem da ignorância e do desconhecimento das condições alheiras. Nesse modelo, quem cuida assume que é quem melhor conhece as necessidades de quem é cuidado.
O cuidado neoliberal de que trata Tronto (2019), tenta negar a existência da responsabilidade pública e coletiva com o cuidado e devolve tudo às famílias, repetindo os ciclos viciosos de um cuidado desigual. Se dissermos que seria realmente útil para as pessoas começarem a cuidar democraticamente, teríamos que responder à pergunta do que as pessoas precisam para cuidar bem. Para que as pessoas possam prestar um bom atendimento em termos democráticos, elas precisam de:
1. Tempo suficiente para realizar os cuidados que deseja em sua vida.
2. Recursos materiais
3. Vontade coletiva: para que surja a confiança e a solidariedade.
4. Igualdade: temos que nos considerar cidadãos iguais se quisermos viver democraticamente.
Superado esse flashback acadêmico, pus-me a pensar na minha história com o trabalho e em como vim parar aqui: arrasada e adoecida por aquilo que sempre foi a minha maior — e talvez única — ferramenta de sobrevivência para encontrar um sentido para a vida e para mim mesma. Um lugar no mundo onde eu fosse valorizada, amada, bem-quista e, sim, aplaudida também!
Em um dos meus tantos bloquinhos, caderninhos e diários, encontrei um poeminha que escrevi em algum momento do ano passado, quando estava sofrendo absurdos por ter ido de golden girl a persona non grata no que eu considerava, até então, o “trabalho dos meus sonhos” (imaginem o que isso significa para alguém cujos sonhos eram todos contornados pelo trabalho! Pois é…).
Enfim, eu escrevi assim:

A maternidade é um excelente exemplo disso. Li de tudo, pesquisei tão a fundo que resolvi trabalhar com isso, pesquisar o tema no mestrado, depois doutorado, escrever um livro e, por aí vai.
A verdade é que, quando me vi quebrada, sobrou muito pouca coisa que eu pudesse, então, considerar pessoal. Sempre fugi de tudo aquilo que não preenchesse os requisitos acima: amor-evoluir-na carreira-ganhar dinheiro-deixar-um-legado-fazer-bem-feito-oferecer-valor.
O meu próprio senso de valor se tornou assustadoramente associado ao que entrego, ao que faço com excelência ou, ao menos, com profundidade.
Repassando minhas experiências e sensações com todas as minhas “empreitadas”, incluindo mudanças de carreira, percebo que sempre mergulhei o mais fundo que conseguisse para que aquele novo aprendizado pudesse, de fato, tornar-se uma possível nova carreira, atividade, no fim: trabalho!
O cenário só começou a mudar muito recentemente, talvez nos últimos dois ou três anos.
Refletindo na última semana sobre tudo isso, me dei conta de que um marco muito claro para mim foi a minha decisão de olhar para a moda e a forma como me expresso através dela de um jeito diferente. E foi um processo incrivelmente revelador, algo que realmente incorporei na minha vida única e exclusivamente por mim. Pelo prazer de escolher um look que combine comigo — e com o meu estado de espírito naquele dia — e que me faça estar presente comigo mesma naquela reflexão diária.
Isso me ajudou a revisitar minha essência em diversos sentidos e, quando cheguei às três palavras que me definem, foi ao mesmo tempo uma surpresa e um retorno. Fez tanto sentido que parecia que eu já sabia, mesmo tendo me surpreendido: sexy, contemporânea e inusitada. Sim, “esse cara sou eu”!
E aí, ao chegar às respostas — caminhos de — me dei conta de que o que define algo como pessoal é ser algo que faço exclusivamente para mim mesma. Sem esperar um fruto maior para o mundo, a sociedade ou o entorno. Faço por fazer. Por prazer apenas. E aí vocês devem imaginar que muita coisa se mistura nesse conceito. E, de fato, sim.
Então que, desde que despenquei entrei neste tratamento do burnout e do estresse pós traumático, me vi às voltas com uma realidade bastante nova para mim: voltei-me completamente para dentro.
A ansiedade e o desconforto em estar em grupos maiores do que cinco ou seis pessoas, o cansaço extremo após poucas interações sociais, mesmo com uma ou duas pessoas, mesmo com quem amo muito, e as crises intensas de exaustão cada vez que preciso fazer tarefas mais trabalhosas me fizeram ansiar, como nunca antes na vida, por estar no meu espaço, cercada apenas dos meus meninos e seguindo a minha rotininha de madame — mas que, no fundo, é o meu descanso.
Bom, eis que, logo que fui afastada, decidi buscar atividades mais manuais e de conexão com a natureza para exercitar um tanto desses meus medos, bloqueios, relações, etc. Mas, como cabeçuda que sou, já queria fazer cursos, saber tudo antes, ter o teórico, não fazer feio.
Escolhi arranjos florais e mesa posta. E, claro, comecei a pesquisar cursos.
Bem, acho que já comentei aqui que estamos de mudança. Finalmente saindo do aluguel para uma sociedade com a Caixa Econômica. Estamos, na medida do possível, deixando o novo apê do jeitinho que sempre quisemos. Então pensei: este é um excelente momento para cuidar mais da casa e ter mais natureza nela. Afinal, não estou trabalhando, ficarei pelo menos até maio sem trabalhar e, mesmo depois, não está nos planos voltar ao mundo corporativo ou a uma jornada tradicional, muito menos aos meus padrões antigos de trabalhar 12, 16 ou até 18 horas por dia, seis ou sete dias por semana.
Ao ver os cursos, porém, achei tudo muito complexo. Muito profundo, muito para quem quer um dia trabalhar com isso. Então falei para o Rodrigo: “Quer saber? Não preciso de curso. Vou olhar referências no Pinterest, ver uns tutoriais no YouTube (apenas para não cometer genocídio de plantas por total desconhecimento do básico) e ir testando o que gosto, o que não gosto, o que faz sentido.” E me senti TÃO BEM! Tão orgulhosa dessa mudança de paradigma IMENSA para mim.
Ao conversar na sexta sobre trabalho e pessoal com a minha psi, ela me perguntou por que eu achava que tinha feito esse movimento e, prontamente, respondi:
Não quero que isso se torne uma obrigação em que, mais uma vez eu me meça pela performance. Ainda que haja alguma “evolução” no aprender, no experimentar, não quero fazer para ganhar elogios ou acharem bonito. Quero sentar na minha varanda com um café e um livro e ver beleza. Quero deitar com meu marido e sentir aromas gostosos. Quero servir uma refeição para nós que tenha cuidado, atenção e beleza. Como se eu estivesse precisando arrumar meu ninho. Por mim, por nós, e por mais nenhuma outra razão.
E aí veio esse clique: meu momento está me pedindo um olhar pra dentro que é interno em todos os sentidos. Não porque não haja “exposição” (sim, vocês me verão postando meus arranjos, vocês que lutem!), mas porque eu estou fazendo por e para mim e os meus sem esperar que eu seja julgada ou avaliada por isso. E, mesmo que seja, isso não vai definir meu valor ou o quanto as pessoas me amam.
Pensando melhor, me dei conta de que isso já vinha ocorrendo com as roupas, maquiagens, cuidar do corpo, aprender a dançar… uma jornada que comecei sem sequer me dar conta de que essa transformação estava acontecendo.
E isso foi muito muito bonito de enxergar em mim.
Pelo menos por enquanto…
aliás, aqui vão as minha pastas com referências dos tais arranjos florais e de mesa posta 🤗
Biscoitos e lookinhos -
sim, talvez esta newsletter seja apenas uma desculpa para eu me sentir bonita e gostosa



Entrei na thread socorro nunca achei que diria essa frase de perguntar ao Chat GPT:
O que você sabe sobre mim que talvez eu não saiba sobre mim, com base em nossas interações anteriores?
com base em tudo que você sabe sobre mim, me critique. não pegue leve
Resultados:
Algo que talvez você ainda não tenha articulado para si mesma, mas que transparece nas nossas interações, é o quanto você tem um impulso forte de cuidar—dos outros e de si mesma—e como isso se entrelaça com a forma como você pesquisa, trabalha e se posiciona no mundo.
Você não apenas estuda cuidado; você pratica cuidado. Seja ao proteger as pessoas no trabalho, ao criar uma newsletter que respeita seus próprios limites de energia, ou ao questionar estruturas que prejudicam mães no mercado. Mas, ao mesmo tempo, há uma luta interna entre esse impulso e os desgastes que ele pode causar, como vimos com o burnout.
Talvez algo a se perguntar seja: até que ponto esse papel de cuidadora é algo que você escolhe ativamente e até que ponto ele te escolhe?
Beleza, vou ser direta. Você tem uma capacidade incrível de análise e de ação, mas às vezes parece que se sabota ao carregar sozinha o peso das coisas. Você se posiciona, cuida, se expõe—mas a que custo? Você já viu isso te levar ao burnout e, ainda assim, parece que tem dificuldade em redistribuir esse peso.
Outra coisa: você questiona o sistema, mas às vezes parece que ainda espera que o sistema jogue limpo com você. Você se prepara, antecipa golpes (como na reunião emboscada), mas há um fundo de surpresa ou indignação quando eles acontecem. Como se, no fundo, uma parte de você ainda esperasse justiça onde já ficou claro que ela não virá sem luta. E por último: você escreve muito bem, tem uma visão afiada e cheia de nuances, mas ainda não usa isso em todo o seu potencial. Sua newsletter, por exemplo, poderia ser algo bem maior, mas você segura as rédeas para não transformar em mais uma obrigação. O problema é que esse equilíbrio entre ambição e autocuidado talvez te faça errar para o lado de menos ambição às vezes. Talvez tenha medo de querer demais e se machucar de novo. Resumindo: você é brilhante, mas pode estar jogando um pouco abaixo do seu nível por medo do que acontece quando você joga pra valer.
Diquinhas Com amor, Tay
única dica possível essa semana é: tenha bichos de estimação!
minha filhota caçula chegou sexta-feira e eu estou endorfinada, serotonizada, dopada, sei lá…
após a perda do meu grande amor (e primogênito), Jerimum, primeiro do seu nome e único sempre no meu coração, nunca achei que poderia voltar a me sentir desse jeito.
de quando fez um ano que você se foi
de quando eu estava morta de saudades aleatoriamente
de quando seria seu aniversário de dez anos
Jerimum era o cachorro mais carismático que já pisou nesta terra (e quem discorda tá errado, fim!), mas a Tapioca chegou para mostrar que amor multiplica mesmo e que cada um cabe em um lugar muito especial e próprio no nosso coração (peço desculpas de joelho a todas as mães que já julguei por achar que é mentira que se amam os filhos na mesma intensidade!)









E aí ela chegou e eu estou tão apaixonada de novo… e provavelmente ela será presença constante por aqui, porque sim!









Já diria Vinicius, é impossível ser feliz sem um bichinho…
Memes que Curam Mais que Terapia
Se você chegou agora, confere aqui as edições passadas dessa cartinha que sai toda semana com o compilado do meu mundinho.
Beijokas 💋💋💋
Com amor, Tay ❤️
Joan Tronto é uma das principais teóricas do care (cuidados) e articulou conceitos essenciais para a discussão que hoje se popularizou (muitas vezes esvaziada de seus componentes mais interessantes e críticos). Na dissertação analisei a maternidade com apego, pela perspectiva de diversas autoras, mas principalmente de Butler e Tronto, em diálogo com feministas e autoras negras e decoloniais. Você pode encontrar minha dissertação aqui. Se o link não estiver abrindo (às vezes da bug mesmo), basta colocar no seu buscador preferido pelo título e o meu nome: Criação com apego : narrativas da maternidade apegada, reflexividade e problematizações. Leite, Tayná Kalindi Limpias Vieira (yes, I KNOW!!!)
O trecho que traduzi aqui está no original em inglês na dissertação: Care conceptually offers a different ontology from one that begins from rational actors. It starts from the premise that everything exists in relation to other things; it is thus relational and assumes that people, other beings and the environment are interdependent. The care worldview is not about ‘bodies in motion’ that collide, or about the unforeseen consequences of such collisions. Instead, care presumes that people become autonomous and capable of acting on their own through a complex process of growth, in which they are both interdependent and transformed as they live. They can be more or less attentive to the effects that they have on others and the world, though care approaches err on the side of being more, rather than less, attentive. (TRONTO, 2015, p. 32).
Querida, leio vc e me desespero um pouco porque é como se eu estivesse lendo eu mesma. Lindo acompanhar seu processo de cura! Um abraço!
Adorei a ideia de aprender a fazer arranjos e cuidar da mesa! Essas me parecem excelentes vias pro que vc tá buscando, além de provavelmente fornecerem uma clareza mental que vai ser muito importante nesse processo. Por aqui, sou apaixonada por flores, compro um buquê pra minha casa todo domingo (herança da minha mãe, segundo quem "enfeitar a casa com flores é abrir espaço para boas energias"). Que esse novo "trabalho" de "cuidado" te enriqueça enormemente, amiga! Esperarei fotos de flores. Beijo!