- escrevo essa edição extra na cama com Cacá doente (estomatite viral) e dengoso. ele assiste One Piece enquanto eu lhe alcanço água, iogurte fresquinho, meço a temperatura e medico de tempos e tempos.
- não dormi nada bem. não fosse eu uma pesquisadora do cuidado e da maternidade, diria até que é instintivo isso de eu não conseguir de fato dormir sempre que ele está doente. não é! como tudo, aprendemos também a cuidar e o fazemos de formas bastante automáticas depois de fazer isso por tanto tempo. automático não é sinônimo de instintivo!
- esta foi uma semana de recaída feia da minha saúde mental. tratar um burnout combinado a estresse pós traumático e TAG (transtorno de ansiedade generalizada) é tarefa árdua, contínua, nada linear e bastante cansativa. reitero o que tenho dito a todas as minhas pessoas próximas que observo não respeitando seus limites: prevenir é mais fácil do que remediar. se cuidem! se protejam na medida do possível!
Talvez você não saiba, mas na reencarnação passada até 8 meses atrás eu era uma pesquisadora.
E o tema que eu pesquisava era justamente cuidados, maternidades e parentalidades, tendo o Gênero (maiúsculo, enquanto campo acadêmico mesmo) como principal ferramental para essas pesquisas.
Me tornei pesquisadora oficialmente, ao entrar no mestrado em 2019.
O lugar de pesquisadora de um tema cheio de tabus, senso comum, clichês, estereótipos e jargões é muitas vezes solitário e doloroso. É um lugar de estranhamento e de pesquisadora insider.
“Manter a sanidade tornou-se um desafio por si só: me vi afogando na experiência mais visceral de debate sobre o cuidado que eu poderia viver enquanto procurava apreender o que o meu campo dizia sobre a teoria que eu ainda estava tentando conectar. Não foram poucas as vezes em que pensei em desistir e o "apenas mais um dia" se tornou meu mantra pandêmico.
Ao mesmo tempo, vi-me a cada dia mais aprofundando o meu "processo de estranhamento" do lugar onde saí quando comecei a refletir sobre as questões que me trouxeram a este objeto (TORNQUIST, 2007).
Estranhamento este que, como diz Carmen Tornquist (2007) ao refletir sobre seu próprio campo, simbolicamente muito próximo do meu, não ocorreu sem dor ou desconforto ao constatar que o que por tanto tempo me foi familiar agora começava a tornar-se incômodo:
Estranhar o familiar é um processo doloroso, pois, sabemos que o descentramento do olhar traz mudanças irreversíveis à forma de ver, ou seja, o deslocamento que o processo de relativização permite e provoca é uma viagem, se bem-sucedida enquanto tal, da qual não se retorna, jamais, a ponto de partida. (TORNQUIST, 2007, p. 36).
Extraoficialmente, comecei a me aprofundar no tema quando comecei a tentar engravidar (em 2013) e me peguei estudando por conta própria este universo imenso de discursos produzidos sobre maternidade, paternidade, cuidados, criação, etc.
De lá para cá, muita água rolou debaixo dessa ponte. E por água quero dizer:
- leituras infinitas;
- aulas pra cacete;
- seminários;
- entrevistas;
- pesquisas de campo;
- coluna na Azmina sobre maternidade e feminismo;
- produção de textos para as redes;
- artigos;
- um livro não acadêmico (Gestar, parir, amar: não é só começar, que você pode comprar aqui);
- várias disciplinas isoladas na UFPR até decidir entrar no mestrado;
- mestrado em sociologia;
- uma dissertação produzida com oferecimento especial de pandemia global com criança de 4 anos em casa;
- uma especialização em políticas públicas de cuidado com perspectiva de gênero na FLACSO;
- aprovação no doutorado na UNB para ser orientada por uma das principais especialistas no tema na América Latina;
- participação em dois grupos de trabalho do legislativo sobre licença-maternidade e licença parental;
- muita ralação e disciplina para trabalhar mil horas por dia entre São Paulo e Curitiba (fora as viagens internacionais e nacionais a trabalho) e tocar um doutorado presencial em Brasília;
- assédio e burnout;
- qualificação no doutorado;
- desistir do doutorado;
- abandonar tudo e resetar a máquina;
tudo isso, é claro, enquanto intensifico as minhas tarefas materiais de cuidados ao estar mais em casa, além de me deparar pessoalmente com a realidade de cuidados com a saúde mental que este momento me exige.
pois bem, credenciais postas, venho falar deste tema que brilha meu coração e arrepia minha pele (e por isso mesmo é um put@ gatilho quando lembro que desisti dele) e que sempre que chega nesta fase do ano (dia das mães) ressuscita questões essenciais debatidas por pesquisadoras, militantes feministas em todo o planeta há décadas.
nota importante: muito do que está aqui são atualizações e adaptações de outros textos meus produzidos em diferentes momentos da minha trajetória com o tema!
Boa leitura e feliz dia das mães para todas as pessoas para quem este dia significa algo bonito e celebrável e um abraço bem apertadinho para quem, por qualquer razão que seja, passa esse dia com gatilhos e sofrimento. Todo meu carinho para vocês!
Com amor, Tay ❤
“Eu nunca encontrei um lugar. Não acho que vá encontrar um lugar [...]. Isso pode ser uma possibilidade para os outros; eu não acho - [...] É porque estou sempre ligeiramente desidentificada em qualquer posição determinada. Não pertenço bem a nenhuma categoria estabelecida. Mas também não sou alguém que as transcende todas com felicidade. Não sou a favor da transcendência feliz. Para mim, o gênero é um campo de ambivalência.” (Judith Butler)
Entre a “treta” com as mães de pet1, o “direito de romantizar”, as homenagens e as bonitas trocas de afeto, hoje serão milhares (milhões) de textos reforçando esse lugar de abnegação, sacrifício e cuidado invisível que se chama de “amor materno”. Lugar este que não fica restrito na homenagem e no textão, mas sustenta uma narrativa que tem consequências muito práticas.
Essa premissa, que trata as maternidades como algo universal e amplamente compreendido e vivido em qualquer tempo, cultura ou lar, embora eu compreenda que possa vir de um desejo de empatia é bastante problemática porque moraliza um debate que deveria ser sobre direitos e emancipação.
A moralização de qualquer questão feminista coloca em outra categoria mulheres que fazem escolhas diferentes das que eu julgo moralmente superiores, presumindo que, tendo as mesmas oportunidades que eu, qualquer mulher faria a mesma escolha.
Eu sei que é muito fácil de cair nessa armadilha... eu mesma provavelmente já cai demais, mas a gente precisa ir além se deseja um mundo que realmente nos liberte de quem quer tutelar nossos corpos, desejos e relações.
Naturalizar a experiência do ser mãe, ligando tudo que é cuidado ao maternar e todo maternar ao cuidar, reforça o discurso de que a maternidade é intrínseca e será experenciada por mulheres, com ou sem filhos. A mulher pode até não ter filhos, mas ela vai cuidar.
É justamente este tipo de normalização de questão de fundo que continua sustentando, por exemplo, a discriminação no mercado de trabalho, afinal, se “ser mãe é”, a sociedade toda se sente confortável para considerar que eventualmente todas as mulheres farão escolhas parecidas (spoiler: muitas fazem não porque sejam mães, mas porque é uma falsa escolha!).
Mães (e pais) são diversas e vivem essa experiência pluralmente e, certamente, uma experiência individual não vai conseguir cobrir todas para avocarmos o saber sobre O SER MÃE.
Estamos tão acostumadas a dizer que “mães” são discriminadas no mercado, são escanteadas socialmente que não paramos para refletir que o problema de fundo não é ser mãe. O que a sociedade neoliberal não aceita e expele e explora cada vez mais é o cuidar.
Há questões e camadas da nossa sociedade escravagista que sempre precisam ser incorporadas na reflexão sobre o trabalho doméstico remunerado. Há desafios e dores que necessariamente atravessam as experiências de mães de crianças pequenas e que devem ser levadas em consideração em qualquer análise. E há, também, o moralismo e o conservadorismo enraizado, que julga a partir da ótica do cuidado como algo do campo do afeto apenas ou, como um trabalho qualquer, e não um recheado e atravessado por relações e afetos muito próprios. Igualmente equivocado.
Mães são, de fato, discriminadas, excluídas, sobrecarregadas, estão cada vez mais adoecidas. E isso ocorre porque se espera das mulheres, especialmente das mães, mas também de filhas, irmãs, noras, avós que cuidem.
Experimente ser uma filha cuidadora de pais idosos, que precisa se ausentar do trabalho com frequência para consultas e exames para ver como as empresas a tratarão. Ou mesmo um pai que efetivamente cuide. Vá ao pediatra sempre que necessário, falte quando a criança está doente e assim por diante. Ou, ainda alguém que não é nem pai, nem mãe de alguém, mas de fato seja parte dessa experiência de cuidar (tios, tias, amigas, vizinhas, you name it). Difícil até de imaginar, ne?!
E aí compare com mulheres sem filhos.
E aí é por isso que vemos com frequência coisas como:
Tenho um destaque no meu Instagram só sobre essa matéria (de 2022), caso queira ler mais sobre.
Agora, compare com as expectativas sobre mães pobres, especialmente negras e periféricas. Não se espera (aliás, sequer se admite) que essas mães fiquem em casa exclusivamente cuidando de suas crianças.
Não se aceita uma mãe pobre com muitos filhos e, a bem da verdade, é comum pessoas acharem que esta população nem filhos deveria ter.
Collins (2019), ao discorrer sobre as imagens de controle social atreladas às diversas mães afro-americanas, ora como dóceis serviçais (mummys), ora como mães agressivas e castradoras (matriarcas) ou dependentes do Estado sobre quem recai a culpa pela pobreza negra nos Estados Unidos, ilustra como essas práticas discursivas operam no imaginário social transformando facilmente sintomas em causa, vítimas de políticas liberais em culpados pela própria pobreza e, de quebra, invisibilizando narrativas de agência de todo um povo.
Ao elaborar suas reflexões sobre parentalidade, bell hooks (2019) evidencia como os debates feministas dos anos 60 e 70 que advogavam contra a maternidade, apresentando-a como o principal obstáculo à libertação das mulheres referiam-se, especificamente, à realidade de mulheres brancas de classe média e média alta.
Se as mulheres negras tivessem expressado sua visão sobre a maternidade, esta certamente não teria sido definida como um sério obstáculo à nossa liberdade como mulheres. Racismo, falta de emprego, falta de habilidades ou de formação e várias outras questões estariam no topo da lista – menos a maternidade. As mulheres negras não diriam que a maternidade nos impede de ingressar no mercado de trabalho, porque sempre trabalhamos. (hooks, 2019, p. 195).
As mulheres que reivindicaram a libertação da maternidade, que argumentaram pelo fim da maternidade compulsória e pela entrada da mulher no mercado de trabalho, acabaram por obter seus êxitos justamente às custas daquelas a quem foram negadas as experiências subjetivas da maternidade e se tornaram responsáveis pela criação e cuidados das filhas alheias, em detrimento de suas próprias.
Cabe falar de maternidade compulsória em um contexto em que mulheres negras tem sistematicamente enterrado seus filhos, vitimados pela violência, principalmente estatal e pelo racismo, sem que possam sequer vivenciar relações de afeto livres da violência que se abate sobre corpos negros?
De que “mães” e de que “crianças” estamos efetivamente falando?
Sim, porque assim como a maternidade, a própria infância passa longe de ser um lugar homogêneo, estanque e universal como se quer fazer crer. Ser criança, assim como ser mãe é um conceito impregnado de questões de raça, classe e região.
Democratizar, desfamiliarizar e desfeminizar o cuidado, de preferência a partir de políticas públicas e privadas de cuidado integral é o objetivo final. Garantir condições justas e boa – excelente – remuneração para pessoas cuidadoras é o pleito. Não exigir que as mães (e mesmo pais) façam tudo sozinhos, sem contratar cuidados ou, que quando o fazem, este cuidado seja considerado “terceirização” ou mesmo “apoio”.
Hoje certamente as matérias sobre dia das mães serão melhores do que as que saíam quando comecei a pesquisar este tema.
Aposto que haverá muito sobre mercado de trabalho, romantização, arrependimento, licença-parental, mulheres que decidiram não ser mães e talvez sobre as mães por adoção. Deve rolar alguma coisa sobre parentalidades “homoafetivas”. Quem sabe até alguma experiência de mães trans. Certamente algum engraçadinho vai trazer a questão das mães newborn (uns anos atrás foram as mães de planta…).
Muita gente (que começou a “pesquisar” sobre isso anteontem e que segue reproduzindo discursos problemáticos desalinhados das melhores produções científicas e materiais sobre o tema) falará - com muita propriedade claro e sem citar nenhuma referencia de onde elas tiraram essas conclusões brilhantes - de “economia do cuidado”, de “desromantizar” e de que “as mães adquirem competências valiosas para o mercado de trabalho”.
De fato, uma mudança e tanto se compararmos a poucos anos atrás quando o tema era uníssono em contar histórias de sacrifício e superação de mães.
E as pesquisadoras (especialmente esta aposentada) seguem chorando em social language.
A resposta está e sempre esteve em estabelecer uma ética social cuidadora feminista, enquanto pacto social, onde se incluam crianças em todas as esferas e as consideremos - VEJAM SÓ - sujeitos, com cidadania plena e individualidade, assim como suas pessoas cuidadoras.
É comum ouvir, como argumentos para quem não quer ter filhos biológicos que “a terra já está cheia demais”, e “tem tanta criança precisando de um lar”, ou ainda que “este seria um desejo egoísta”.
E as pessoas se sentem sentem também muito à vontade para excluir crianças dos espaços de convívio social, a dizer que pais e mães que se virem. “Ninguém mandou botar filho no mundo” e “eu não sou obrigado a aguentar choro de criança” ou, “birra de criança mal educada”. Até nos campos mais progressistas, o debate sobre a volta às aulas foi completamente absurdo e centrado em uma perspectiva de “os pais que não aguentam seus filhos em casa”.
Fala-se com bastante cara-de-pau conforto também por aí - principalmente nos debates sobre maternidade “compulsória” que a pessoa “não quer ser mãe porque não tem - ATENÇÃO - vocação para “cuidar”. Como se cuidar fosse - ou devesse ser - vocação, opcional, uma escolha… individual… e que cada uma que arque com as consequências desta.
Então, de novo, o “problema” nunca foi ser ou não ser mãe e sim, a expectativa de que o cuidado é responsabilidade exclusiva ou, no mínimo primária, de mulheres (cis, porque deuzmelivre uma mãe trans, ne?! aí radfachas e conservadoras se unem em uma só voz para bostejar).
É aí que, mesmo pessoas progressistas falam coisas como “função maternal”, chamam barrigas de aluguel de “mães” e diz que “criança não é mãe” (com as melhores das intenções) para defender a justíssima causa de liberdade, legalização e universalização do aborto.
Ou seja, a maternidade segue sendo naturalizada e, em dias como hoje, absurdamente romantizada mesmo quando pintada de progressismo e feminismo quando ela é tida como uma função universal, atemporal, exclusiva de mulheres cis, instintiva ou mesmo como “um trabalho qualquer que precisa ser remunerado".
E tudo isso é reforçado justamente pelo discurso que parece bonito e emocionante no dia das mães (e em todos os outros!).
Quer mais um exemplo? (acredite, eu poderia ficar aqui até o próximo dia das mães dando exemplos sobre isso!).
“Você é a melhor mãe que seu filho poderia ter!"
Será?! (no meu caso eu até acho que sou porque somos dois doidos nas mesmas doidices kkkkkk), mas falando sério agora: por que não se pode aceitar que uma mãe seja apenas ok?
Eu pergunto e eu mesma respondo: porque que mulher sou eu se não for boa o suficiente nesse que deveria ser o meu principal ofício?
De que importa se sou excelente em tanta outras coisas? Qual é o problema se a maternidade não for a função que você exerce melhor na vida? São os homens reduzidos a serem ou não bons pais? O que faz de um homem um homem bom? E um pai? E uma mulher? E uma mãe?
Eu amo esse texto da
e, em geral tudo que ela conta sobre as dificuldades bastante reais e concretas da maternidade de uma criança atípica.Aliás, assinem a News e tenham excelentes textos para expandir sua cabecinha e também ser efetivamente suporte para uma mãe!
Ao presumir como universal o amor materno, não admitindo exceções que não sejam aberrações e, portanto, condenáveis moralmente ou tratadas como patologias e desvios, acabamos procurando justificativas dentro desse suposto amor incondicional inclusive para comportamentos prejudiciais para bebês e crianças.
O mito da “mãe sempre-bem-intencionada” aceita que se ama mesmo quando se abusa, machuca, maltrata, já que admitir que ela o faz porque não ama seria questionar a própria lei universal do amor materno.
Naturalizar abusos maternos parte do pressuposto de que toda mãe faz o que pode e dá o seu melhor porque isso é da natureza da mulher, principalmente quando ela se torna mãe. Se isso não é essencialização, eu não sei o que é.
E assim, não apenas abre-se passagem para todos os tipos de danos e violência contra a infância, como seguimos reforçando o lugar primário e “ideal” deste cuidar.
Você não é necessariamente a melhor mãe que seu filho poderia ter (até porque sei lá ne, como iríamos saber disso?).
Você é a mãe que ele tem!
Você pode ser incrível nisso, mediana ou ruim mesmo. E poderíamos e deveríamos inclusive debater mais o que é ser uma mãe ruim, boa, etc. Isso é bastante subjetivo. Cuidados, por outro lado, bem menos (pelo menos na perspectiva que temos trabalhado nas Ciências Sociais2).
Você pode inclusive ser tudo isso ao longo da vida, com filhos diferentes e isso é absolutamente comum.
Você pode ter uma gama de escolhas e possibilidades ou não, mas a sua qualidade como mãe não deveria também definir toda a sua existência como ser humano.
Nenhuma outra relação tem esse peso.
Separar o lugar social mãe, dos sentimentos experimentados na relação com os filhos é urgente se queremos avançar na discussão sobre a igualdade de gênero e, de quebra, tornar essa experiência mais leve para todas!
Me permito discordar da Federici porque cuidar não é apenas trabalho não remunerado, mas é também! Não é apenas afeto, mas é também! Cuidar e ser cuidado é complexo. É relacional e é solitário. Cuidado é direito, mas é também dever.
Sei que muitas vezes pode parecer que este debate conceitual seja algo “menor”, diante de todas as dificuldades materiais que as mães brasileiras e do mundo todo enfrentam.
Não é!
Ao contrário: somente quando todes tivermos o direito ao afeto e ao cuidado assegurados é que estaremos livres! O resto é armadilha!
Não há homenagem em maio que mude isso, muito menos ficar dizendo para a mãe de pet de que ela “não é mãe” o que vai fazer com que as mães sofram menos.
É preciso, mais do que tudo, descentralizar o papel da família na construção de uma sociedade democrática e cuidadora. Retirar o foco absoluto da relação individual entre a criança e seus cuidadores primários para deslocá-lo para o cuidado coletivo, a corresponsabilidade social e para redes de solidariedade cidadãs.
Eu abri essa reflexão com a Butler porque eu, assim como ela, eu não transcendo feliz: a maternidade (e o cuidado )é um campo de ambivalência. estou sempre ligeiramente desidentificada.
Diquinhas Com amor, Tay ❤ (especial dia das mães)
a edição de maio da Revista Cult (já garanti a minha!) que tem simplesmente a melhor curadoria da minha amiga genial, Marília Moschkovich, com contribuições de um timaço de amigas e referências bibliográficas.
o capítulo (e todo o livro) que eu e a
escrevemos juntas sobre os discursos sobre amamentação nas redes sociais (o nosso é o capítulo 4). O livro é organizado pelas Profas Milene Freire e Maria Collier de Mendonça, da UFSM e está disponível gratuitamente online:
qualquer coisa da minha (ex) orientadora Flavia Birolli, sobre cuidados, mas em especial o capítulo sobre Cuidado desse livro aqui:
Gênero, Neoconservadorismo e Democracia: Disputas e Retrocessos na América Latina
e essa coluna dela aqui:
Precisamos falar de cuidado e imaginar futuros mais justos
esta coletânea de textos da Cult, organizada pela Daniela Teperman, Thais Garrafa e Vera Iaconelli com artigos valiosos, inclusive um da Marília:
estes livros da
:
Mal-Estar na Maternidade - do Infanticídio à Função Materna
conheçam a Joan Tronto, leiam bell hooks, Patricia Hill-Colins e leiam (de verdade, não só para citar frases de efeito!) Angela Davis, dentre muitas outras!
acompanhem os debates no legislativo sobre políticas de cuidado de forma crítica e engajada, atentas, inclusive, às possíveis armadilhas discursivas escondidas ali. Aqui vai, por exemplo, a PNC (política nacional de cuidados) brasileira, publicada em 2024:
estão em tramitação diversos projetos de lei sobre licença-parental com diversos deles tendo uns cavalos de troia bem ruins, especialmente o mais provável de ser aprovado (da Tabata Amaral). leiam sobre, acompanhem os debates. (esta era minha falecida pesquisa na tese. quem tiver interesse em ler, eu mando o texto da qualificação que não servirá mais para mim anyway.
ampliem seus repertórios sobre maternidade e parentalidade, acompanhando famílias com as quais não convivem em suas bolhas.
Bom, por hoje é só meu povo…
Um feliz dia das mães a todas, em especial à minha, a quem agradeço por nunca ter deixado a peteca cair mesmo em momentos bem difíceis. Por aprender sempre e cada vez mais a ser uma mãe e um ser humano melhor. Por ter me passado muito do que eu tenho de melhor e por ser a minha maior apoiadora e fã!
Com amor, Tay ❤️
Ahhhh e se você chegou agora, confere aqui a última edição dessa cartinha que sai toda semana com o compilado do meu mundinho.
eu e minha amiga, pesquisadora diva perfeita do tema, Bruna Graziuso temos um vídeo antigo (11.05.2020) sobre essa suposta treta - Mãe de Pet: a treta
O bom cuidado, para Tronto (2013) deveria atender às necessidades da pessoa cuidada, sem prejudicar ou sobrecarregar os cuidadores ou qualquer outra pessoa. O mau cuidado, por sua vez, tem características específicas: vem da ignorância e do desconhecimento das condições alheiras. Nesse modelo, quem cuida assume que é quem melhor conhece as necessidades de quem é cuidado. O cuidado neoliberal de que trata Tronto (2019), tenta negar a existência da responsabilidade pública e coletiva com o cuidado e devolve tudo às famílias, repetindo os ciclos viciosos de um cuidado desigual. Se dissermos que seria realmente útil para as pessoas começarem a cuidar democraticamente, teríamos que responder à pergunta do que as pessoas precisam para cuidar bem.
Para que as pessoas possam prestar um bom atendimento em termos democráticos, elas precisam de: 1. Tempo suficiente para realizar os cuidados que deseja em sua vida; 2. Recursos materiais; 3. Vontade coletiva: para que surja a confiança e a solidariedade. 4. Igualdade: temos que nos considerar cidadãos iguais se quisermos viver democraticamente.