Tenho lido muita coisa sobre Adolescense e algumas importantes inquietações e incômodos que achei legal trazer para cá também em formato de vídeo (free style, sem edição, só acrescentando legenda mesmo!) para falarmos sobre os problemas de se ouvirem sempre as mesmas pessoas, mesmo que não tenham conhecimento específico sobre o que estão comentando.
Estou escrevendo sobre isso, para a News #12, mas queria abrir esse diálogo aqui para deixar o texto mais rico.
Ainda não assisti a série porque marido e eu estamos com dificuldades de horários para assistir juntos.
Meus principais pontos de incomodo são:
como quase tudo que vira “prioridade” no debate público, abre espaço para análises enviesadas pela falta de letramento intersecional.
leituras simplistas e reducionistas (geralmente baseadas em experiências pessoais) sobre um problema social complexo e relevante como esse faz com que se espalhem rapidamente “diagnósticos” a partir de lugares comuns que só reforçam estereótipos equivocados. Inclusive, me parece, por não ouvir quem já trabalha com a temática desde antes dela virar frisson.
sinto falta de ouvir em veículos de grande alcance as comunidades escolares do ensino publico, as mães trabalhadoras domesticas que não tem como ficar “fiscalizando” cada passo de seus adolescentes porque estão criando as crianças de outras famílias.
por que não ouvir pesquisadoras e pesquisadores no tema? Que tal abrir espaço para quem atue neste campo?
no caso da coluna da Folha (“o Feminismo Errou”), por exemplo, as soluções apontadas são simplistas, reducionistas e não refletem nada do que o movimento e os estudos de gênero debatem e lutam. Especialistas como a Adriana Dias (que infelizmente perdemos, mas cuja obra está extensamente publicada) e a Lola Arnovitch, dentre muitas outras e outros, tratam deste tema há mais de década.
quando apontamos a responsabilidade dos pais (especialmente das mães!) de que adolescentes estamos falando? de que famílias?
“a gente está protegendo excessivamente no mundo real” disse o Dr. Daniel Becker. Será? A gente (quem?) está mesmo?
Quantos adolescentes sequer estão “trancados” no quarto simplesmente pq estão na rua trabalhando? Ou mesmo crianças. A noite em SP é a coisa mais facil do mundo encontrar crianças com a idade ou menores que meu filho, na rua trabalhando.
Como podemos dizer que “o quarto é o lugar mais perigoso para uma criança estar?”
No Fio da Meada com a juíza Vanessa Cavalieri (cujo trabalho e posicionamento respeito muito!) são feitas muitas referências ao “novo perfil” de clientela do judiciário: jovens de classe média e alta, escola particular, etc… No Café da Manhã esses dias, ela traz uma abordagem de gênero COMPLETAMENTE EQUIVOCADA!
Longe de mim minimizar a relevância de um tema tão importante e urgente (inclusive muito mais “próximo” da realidade em que meu filho está e estará inserido), mas precisamos URGENTEMENTE sair do senso comum e da resposta mais simples, por mais obvia que pareça.
E parar de ouvir sempre as mesmas pessoas, por melhores que sejam em suas áreas.
Aqui deixo também links e indicações que faço no video:
Esse vídeo da Keilla Vila Flor @kellvila (façam um favor a vocês e acompanhem o trabalho incrível dela!)
Enfim, muito para elaborar, mas adoraria ouvir e debater isso aqui também!
Neste link tem uma matéria da Unicamp (alma mater da Professora Adriana Dias) bem bacana com um resumo sobre a etnografia (a tese de doutorado) dela sobre discurso de ódio, neonazismo e muito mais, resultado de mais de 15 anos de pesquisa.
Estes dois artigos da Juliana França David estão super didáticos e bem escritos.
(i) a desculpa psiquiátrica nos tiroteios escolares
(ii) o que nos falta aprender sobre atentados escolares em tempos digitais
Enfim, Google (ou o buscador de sua preferência) no nome dela e da Lola já leva para um MUNDO de informação e dados!
Com amor, Tay ❤️
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