Tenho uma grande amiga (que foi uma das melhores lideranças que já tive na vida) que um dia, em um desabafo quase resignado me disse: “sonho com o dia em que teremos tantas mulheres medíocres sendo promovidas, quanto temos de homens”.
Deve fazer mais de 15 anos que ouvi esse desabafo dela, mas ele ainda hoje, ressoa em mim quando o impulso e indignação surgem como um refluxo ácido na garganta quando penso nas mulheres cúmplices de homens medíocres, lideranças tóxicas e até mesmo assediadoras. Emprestando suas identidades para limpar a reputação sórdida deles, ou até mesmo usando-os como trampolim para suas próprias agendas individuais.
Sim, por mais revoltante e por quanto me queime todo o aparelho digestivo pensar nelas, sempre me lembro dessas frases e me digo: tem muito homem branco antes merecedor dessa energia.
Pois bem, hoje, logo após compartilhar algumas breves reflexões sobre padrões de assédio a partir do caso Blake Lively (se você não sabe do que estou falando, é disso aqui) e que você pode conferir no meu instagram e nos links e cards abaixo, ressucita na minha timeline, este artigo da Harvard Business School Review (HBR) de 2013:
Why Do So Many Incompetent Men Become Leaders?, do Professor Tomas Chamorro-Premuzic.
Para quem gosta, tem também TED Talk dele e muita coisa na internet sobre, além de um livro no estilo mais “autoajuda”.
Why Do So Many Incompetent Men Become Leaders?: (And How to Fix It)
Obviamente, já se passaram 12 anos e tem muita coisa complicada e equivocada em suas afirmações (especialmente porque ela ainda tem um tom bastante essencializador¹), mas enquanto passava meu cafezinho, deu vontade de abrir esse papo, porque há muito mais conexões entre estes dois temas do que gostaríamos de admitir, mesmo mais de uma década depois.









Em resumo, o artigo destaca que as características psicológicas que frequentemente permitem que homens subam ao topo da hierarquia corporativa ou política são, paradoxalmente, as mesmas que levam ao seu fracasso como líderes. Isto porquê, em outras palavras, as qualidades necessárias para conseguir o cargo frequentemente contradizem as habilidades necessárias para de fato desempenhá-lo bem. Isso resulta na promoção de muitas pessoas (principalmente homens) incompetentes, frequentemente sobre outras mais competentes.
Embora as mulheres enfrentem barreiras significativas em sua jornada rumo a cargos de liderança, o problema maior, para ele, mais do que essas barreiras para elas é a ausência de obstáculos para homens incompetentes, além da tendência de associarmos liderança a características psicológicas que tornam os homens, em média, líderes menos eficazes do que as mulheres (olar Carol Gilligan e uma voz diferente).
Em suma, o sistema recompensa a incompetência masculina enquanto penaliza a competência feminina, prejudicando organizações e a sociedade como um todo. Isso sim, me parece importante mesmo estar assim bem claro em uma revista de negócios em 2013… (porque nas pesquisas de gênero já estava é séculos…)
Ele defende repensar os critérios de avaliação e seleção de líderes, um ponto mais relevante do que nunca.
Além disso, muitos homens contratam mulheres com desempenho baixo em cargos de liderança para “atender cotas de diversidade de gênero” (muitas aspas aqui), sem empoderá-las para liderar de fato (zero autonomia, ambiente violento e assediador, para começar a conversa).
Esse comportamento perpetua uma dinâmica de liderança fraca, deixando de reconhecer o potencial de líderes competentes, sejam mulheres ou homens e sendo também um componente do backlash na agenda que vemos fazer coro à agenda ultraconservadora.
E o que o tema do post sobre o caso da Blake Lively tem a ver com esse artigo então?
É exatamente esta conversa que eu quero começar e continuar com vocês!








você pode conferir o texto completo no meu instagram e no LinkedIn também
Um beijo,
Com amor, Tay ❤
¹ falo mais sobre isso, dentre outros, neste postzinho aqui, além é claro de todo o capítulo 2 da minha dissertação de mestrado, disponível na Biblioteca Digital da UFPR (que neste momento parece que está fora do ar, mas quem quiser o arquivo, me pede que eu mando) e no meu livro, Gestar, Parir, Amar: não é só começar, que você pode comprar aqui.
para procurar a DIRCE você mesma, aqui vai:
Universidade Federal do Paraná
Título: CRIAÇÃO COM APEGO: NARRATIVAS DA MATERNIDADE APEGADA, REFLEXIVIDADE E PROBLEMATIZAÇÕES, Ano de Obtenção: 2021
MARLENE TAMANINI. Palavras-chave: maternidade; CRIAÇÃO COM APEGO; CUIDADO. Grande área: Ciências Humanas Grande Área: Ciências Humanas / Área: Sociologia / Subárea: Estudos de Gênero.
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