para ler ouvindo:
nas conversas ao redor de uma mesa em dias de festa, nós seremos apenas um nome, cujo rosto vai se desvanecer até desaparecer na massa anônima de uma geração distante.
Annie Ernaux - Os anos

— bom dia Tayná! a temperatura agora é 4º CELSIUS - gritando
— credo! - chorando
— você tem dois compromissos na agenda hoje - irônica
— wowwwwww! tudo isso?! - debochada
🎶🎶🎶 Tudo começou com o sol… 🎶🎶🎶
— que sol, gata??! - carrancuda
Liniker certamente não mora em Curitiba…
inspiro fundo só com o nariz para fora do edredom e o ar entra gelado.
— so, the winter is really here! - fazendo sotaque britânico
imagino Dead Walkers pela casa e dou risada sozinha.
enfio a cabeça no travesseiro confirmando que o cheirinho de lavanda que espirrei a noite ainda está ali.
estico a mão tateando para alcançar o celular e me pego pensando: para quê? o que pode ter acontecido de novo entre as 22h de ontem e as 6h15 de agora?
derrubo dois livros.
— merda! irritada
espio o WhatsApp, tudo igual. ah vá!
rolo um pouco pelo notes e vejo uma foto belíssima da
que mando para uma amiga como bom dia…— e aí, já tomou seus remédios e fez seu skincare? - insistente
— não, Alexa, ainda estou procurando a vontade de viver. - melancólica
— não esqueça de beber água antes de levantar! - abusada
mentalmente agradeço por lembrar a mim mesma o óbvio!
— Alexa, bom dia! - resignada
— Bom dia Tayná! - sentindo-se vitoriosa
algumas coisinhas…
dei uma repaginada no site aqui da Com amor, Tay❤. estou impressionada em como tenho me divertido em criar - de forma super amadora, claro - seja por aqui, editando meus vídeos dançando, escrevendo pequenas crônicas e contos e arriscando até alguns poemas.
faltam 30 dias para eu começar a voltar às atividades laborais (estou evitando usar o termo produtiva).
digo começar a voltar porque não será um retorno de zero a cem. a sensação é como se estivesse prestes a iniciar a fisioterapia, depois de uma longa convalescência.
de certa forma é isso mesmo: já são 245 dias desde o colapso e só agora me sinto levantando de fato. tirando a cabeça para fora da lama em que mergulhei (ou fui mergulhada) no início de 2024.
marquei as viagens do segundo semestre, organizei links para marcar reuniões e papos presenciais e virtuais, me inscrevi em eventos e estou estudando para um processo sobre o qual em breve compartilharei aqui. fico entre a excitação moderada, seguida de frio na barriga e o medo de como será essa volta.
tudo isso tem me feito pensar muito sobre recomeços. escrevi longamente no meu diário sobre a sensação de estar - mais uma vez - recomeçando “do zero”. sei que não é do zero, mas é quase como se fosse.
no texto, comparo a minha primeira mudança de carreira, em 2015, aos 31 e agora essa aos 41. de lá para cá muita coisa mudou na minha vida e em mim. o que ganhei de maturidade, perspectiva, perdi de ambição e energia. leiam como quiserem.
neste auto escrutínio também refleti esta constante na minha vida: a de sentir que estou sempre plantando e nunca colhendo. seria eu uma nômade profissional, metaforicamente falando?
é muito louco porque, na verdade, apesar do meu fogo no cuul quando as coisas começam a ficar “fáceis” demais, repetitivas demais ou familiares demais, realmente me dá vontade de partir para novos desafios, mas o que aconteceu dessa vez não teve nada a ver com isso. eu fui arrancada de uma situação profissional na qual estava confortável e feliz. me desafiando e sendo desafiada. aprendendo muito e entregando demais.
é aí que, quando penso nessa volta, neste recomeçar, o estômago arde e o coração acelera. será que conseguirei? será que ainda tenho cartas na manga? quantas chances o universo ainda me dará de ter uma carreira que me traga sustento e alguma satisfação pessoal? (nem pronuncio mais a palavra propósito por aqui…) independentemente da frustração que às vezes me toma, estou sendo muito cuidadosa nesse planejamento.
o segundo semestre será para tatear as coisas, pegar alguns projetos e plantar sementes, sentindo e respeitando meus limites. consciente de que sim, haverá momentos de tristeza, medo
pânicoe, provavelmente, de - mais - decepções.
já avisei as amigas em quais eventos me inscrevi e que elas já podem me indicar para falas em painéis, papos, rodas, e afins. estarei na pista. fiquem à vontade vocês também.
me perguntaram se eu estava com saudade do palco. eu ri. talvez sim, mas o que vocês chamam de palco, eu chamo (ou chamava) de zona de conforto. e talvez seja disso que eu esteja com saudade. porque essa nova versão, mais saudável, equilibrada, descansada, focada no presente, não é a que me sinto mais confortável. ainda preciso fazer um esforço muito grande para aterrizar nela.
é como se eu acordasse e tivesse que escolher qual Tayná irei incorporar. e essa que vos escreve hoje (Tay 4.0 reload) não é a que eu conheço melhor, a que eu tenho mais intimidade ou até afinidade. é a mais saudável e serena, sem dúvidas. a Tayná de sempre é para mim como aquele ex-namorado tóxico com quem você teve o melhor sexo da vida. você sabe que ele não é a pessoa certa e que a longo prazo te fez muito mal, mas só de pensar nele, você fica toda arrepiada, lembrando de tudo que eram capazes de fazer juntos.
dormir 3h por dia, estudar em um voo às 5h da manhã, entregar um monte de coisa ao mesmo tempo com energia e alegria. trabalhar por 18h e emendar um after party sucesso. não sentar em um evento de salto durante 12h e distribuir sorrisos e piadas - frequentemente inapropriadas.
a Tayná de hoje é leve, suave, fala mais baixo, não olha o celular o tempo todo. dorme no meio da tarde quando precisa se energizar. fica olhando para o nada entre páginas de um belo livro, apenas saboreando aquelas palavras.
sendo bem honesta, a Tayná de sempre, teria bastante ranço desta Tayná aqui.
toma aí mais esse cuspe na testa trouxa!
e, por falar em trouxiane, saibam (ou lembrem!) que dia 13 de julho é o aniversário desta canceriana carente e dramática que não esquece jamais que não deu parabéns!
nascer no inverno já é deprimente, estar a um mês de um retorno super angustiante e ainda não receber parabéns será duro demais para o meu coraçãozinho 🥺
como disse na semana passada, ainda falarei mais sobre o que vem por aí em termos de trabalho, mas já posso dar algum spoiler para dizer que irei seguir na área de gênero e direitos humanos, mas com um foco especial em violência no ambiente de trabalho. se você está sofrendo, já sofreu ou conhece alguém que precise de apoio para uma situação de assédio, pode passar meu contato! ;)
e vem novidade também na área acadêmica, mas essa ainda está sendo gestada no íntimo aqui é é só para 2026 ou mais…
Diquinhas Com amor, Tay ❤
a dica de hoje é uma e apenas uma, sobre a qual ainda sai texto (ou artigo) com uma análise mais teórica e reflexiva: dying for sex no Disney+
Dying for sex - trailer oficial
por aqui não quero dar spoilers ainda então deixo apenas essa matéria com uma breve apresentação e digo que foi uma das coisas mais belas, sensíveis e profundas que assisti nos últimos tempos.
“Dying for Sex” subverte narrativas sobre o câncer com humor
A Michelle Williams está monstrona como sempre, mas a atuação da Jenny Slate como a melhor amiga me pegou demais. As cenas das duas - especialmente as que tem menos fala e mais olhares - são uma obra prima sobre amor.
É uma série que traz reflexões sobre sexualidade, sexo, tabus, abuso infantil, fetiches (não apenas sobre sexo, mas também sobre doenças e relações), cuidados (o empírico e o teórico), família, monogamia, medicalização da vida, morte, nascimento.






apenas assistam e me agradeçam depois!
Bom, por hoje é só meu povo. A partir de segunda estarei de férias, mais offline e provavelmente teremos menos edições, não desistam de mim logo no meu aniversário!
Pronto! Mais drama!
Com amor, Tay ❤️
Ahhhh e se você chegou agora, confere aqui a última edição dessa cartinha que sai toda semana (ou quase) com o compilado do meu mundinho.
Se você quiser ver mais fotos com textos e poemas de minha autoria falando de processos e metamorfoses, dá uma conferida no De quantas metamorfoses se faz uma vida?, meu projeto autoral de transformação pela arte.
Opa! Michelle Williams! Não tinha visto isso na Disney. Adoro ela... valeu pela dica.