#18 Com amor, Tay ❤️- eu sou "qualquer uma"... e, sinto informar, você também...
Surto, Tretas e Biscoitos (Cafeínados)☕🔥🍪
para ler ouvindo:
hello povo, tudo bem por aí neste último (praticamente, pois o próximo só no final de novembro quando estaremos provavelmente todes mortes de cansaço) feriado do ano?
bom, por aqui muita coisa boa acontecendo, sendo a principal delas o fato de eu estar me sentindo bem mais estável, mesmo tendo começado lentamente a retomar alguns atos preparatórios para o retorno à vida profissional (colegas criminalistas, fiquem tranquilas que nenhum crime será cometido, a não o ser o dessa piada horrorosa!).
em meio a uma ou outra reunião, desenho de alguns planos e organização para em agosto, de fato retomar a minha carreira (ou algo parecido com isso), tenho estado muito atenta e consciente dos meus sentimentos, prestando atenção em tudo aquilo que poderia ser gatilho ou euforia exacerbada e extremamente comprometida com a priorização daquilo que aprendi neste processo e não quero abandonar nunca mais: cuidar de mim, do meu corpo e da minha mente, de verdade!
so far so good, mas como disse hoje na terapia, sigo vigilante.
ainda falarei mais sobre o que vem por aí em termos de trabalho, mas por enquanto quero preservar esse universo, até porque um dos meus principais pontos fracos hoje é justamente a expectativa (minha e dos outros) sobre uma Tayná que não existe mais.
como será a nova profissional Tayná? não sabemos… iremos descobrir, mas enquanto ela não tá aí na pista, prefiro guardar ela aqui para a vida offline, protegida daquilo que poderia derrubá-la mesmo antes de nascer direito… sei que vocês entendem.
assim que eu me sentir segura, compartilharei este processo também, caso ele possa ser útil para quem passou, está passando ou passará por algo parecido.
mas antes de ir ao tema desta edição, preciso compartilhar uma autobiscotagem aqui que me deixou muito orgulhosa:
Na edição passada desta humilde newsletter, cometi um textão sobre temas que conectam tanto com meu tema de pesquisa até aqui (gênero), com meu trabalho (direitos humanos) e com a minha militância (feminista), mas também são um aspecto desta nova forma de me ver no mundo do trabalho daqui para frente: menos fragmentada, mais inteira e sem muito saco vontade de abrir mão desses outros aspectos da minha vida em prol de uma suposta postura mais “profissional”.
eis que era uma noite gelada de sexta. criança viajando. estamos debaixo das cobertas com aquele bloqueio criativo de não conseguir escolher algo na tv que mantenha estes 2 semi-xovens acordados (em minha defesa, ambos acordaram antes das 6h).
optamos, então, pela atividade mais humana e prazerosa que nos une enquanto espécie: a fofoca e o julgamento livre e gratuito de desconhecidos em realities de temática duvidosa.
bom, fomos de DE FÉRIAS COM O EX BRASIL - 1a TEMPORADA
ok, o ano era 2016. o mundo era outro.
o meu com certeza era.
em 2016 estive gestante no primeiro semestre e puérpera no segundo. engordei 32kg (22 só de inchaço), tive pré-eclâmpsia, quase morri por um erro médico e tive que ficar em repouso durante quase um mês inteiro (que pareceu um ano!)
trabalhei muito enquanto via o Brasil descortinar seu lado mais racista, classista e misógino em rede nacional. assistia às sessões do impeachment golpe (cof cof) tendo inúmeras crises de ansiedade. fui às ruas pelo direito ao aborto livre, irrestrito e gratuito, contra o Temer e o golpe — mesmo ainda sendo iniciante no meu processo de politização (eu que nem eleitora dela era, passei a admirar Dilma como poucas vezes admirei alguma figura política!).
chorei lágrimas grossas pela menina de 16 anos que foi estuprada por pelo menos 30 homens e, no meu íntimo agradeci por estar grávida de um menino e isso me fez chorar mais ainda.
O Reino Unido ainda fazia parte da União Europeia e o Lula ainda estava livre e o alaranjado maluco ainda não havia iniciado o seu primeiro e tenebroso mandato à frente da nação mais perigosa do mundo para se ter um psicopata.
não havíamos passado pela crise global mais distópica de nossas vidas “liderados” (sic) pelo que há de pior em matéria de ser humano. aliás, o inelegível era apenas uma piada de mau gosto.
Marielle estava viva e, com ela, ainda fervia uma esperança raivosa de mudança e tomada das ruas!
eu não tinha trabalhado na ONU ainda, nem entrado no mestrado, muito menos pensava em doutorado e naquela época eu escrevia para a Revista Azmina de vez em quando (e depois emplaquei minha coluna #saudades) e quase sempre pro extinto Huffpost Brasil1 (#RIP).
em 2016, enquanto os jovens sarados e as gostosas saiam de férias com o ex, eu tinha muitas certezas que hoje já não fazem mais tanto sentido.









divaguei aqui na nostalgia e nas lembranças deste ano tão maluco em que eu sequer sabia da existência desse reality show e dessas pessoas, enquanto o país começava a pegar fogo…










foca Tayná, caraleo…
bom, tenho muitas opiniões (kkkk) e julgamentos desempáticos para destilar sobre a experiência de entretenimento (excelente!) da obra como um todo, mas neste espaço queria mesmo era conversar sobre o ponto que está no centro da News #17: o tal do “não sou qualquer uma”!
óbvio que sei que estou mais do que atrasada no rolê da fofoca/análise/crítica/react de algo que aconteceu há quase uma década.
como disse, sei que o mundo era outro e não sei nada sobre por onde andam os participantes, a não ser que uma delas depois casou com um Poncio - família cuja existência só descobri quando uma desquerida viralizou fazendo a primeira de suas, infelizmente muitas, “análises feministas” de um BO que - graças às deusas - meu cérebro já deletou2!
eis que fiz um post na rede ao lado falando mais ou menos disso tudo e perguntando para quem interage ali o que se definiria como “qualquer uma”? quem é “qualquer uma?” (seja vc homem ou mulher, nao binarie…)
não sei se a galera ficou com medo de ser cancelada ou julgada, mas recebi poucas contribuições. muito boas porém e eu queria continuar esse papo aqui. quem sabe tenho mais sucesso nas interações e trocas.
a questão de fundo para mim foi: você está num programa cujo objetivo é a put@r1a. certo? certo!
aí você começa já de casalzinho e, pior, começa a ter ciúmes de um cara que você mal conhece, em uma disputa de “diferenciação” com uma mina que também mal conhece o cara. a todo momento as mulheres entram nessa pilha de “ele tá achando que eu sou qualquer uma”, “sei do meu valor”, e tudo que falamos sobre na edição passada. essa necessidade de diferenciação que se não faz sentido na sociedade em geral não deveria fazer o MENOR sentido em um contexto como esse.
pelo amor de dios.
se tem uma coisa que todo mundo é ali é qualquer um.
na melhor acepção da palavra.
pessoas que você acabou de conhecer, sem outro vínculo a não ser terem sido selecionados para um programa com o objetivo de expor seus corpos sarados e cabeças ocas nos propiciando cenas quentes e fofocas inúteis para nos distrairmos dos dramas mais pesados da humanidade.
você é sim qualquer uma, tanto quanto esse mano bunda mole e burro que dói na espinha toda vez que ele abre a boca é também qualquer um.
pelo menos por enquanto (eu só assisti quatro episódios e essa já era a tônica dos papos…), no entanto, a tônica das disputas são justamente as “traições” e supostas talaricagens.
entre as mulheres, claro… os homens, ao contrário, são brothers, incentivam e validam essa competição feminina burra e - aparentemente - inescapável.
parece familiar? pois é…
pra não dizer que não falei das flores, aqui uma boa definição que recebi de uma amiga sobre o que seria “qualquer uma”:
“Pra mim é a mulher que não tem consciência do próprio valor, que aceita migalhas por ser desesperada pelo olhar e afeto masculinos. É a que se coloca como inferior ao homem, carente e que ainda crê necessitar de relacionamento para fazer a vida acontecer.”
gostei dessa resposta porque é uma resposta centrada em si e não na diferenciação em relação à outra mulher.
uma outra pessoa me escreveu na caixinha anônima que
quando eu falo que não sou qualquer uma, quero dizer que sei do meu valor e não preciso disputar macho com outra mulher
e eu entendo gente, entendo de verdade, mas vejam, quando a gente se coloca nesse lugar de negativa é sempre em relação a algo ou alguém, não?
se eu não sou qualquer uma, é porque alguém (ou algumas!) são. e aí o que isso significa?
porque o ser alguém “especial” ou “genérico” (tentando olhar por esse outro lado e não o mais provável que é o moralista mesmo de achar que a qualquer uma é a mulher piranha, fácil, etc.) depende 100% da relação e não da identidade. não pode ser um adjetivo.
eu — evidentemente — não sou qualquer uma para as pessoas que se relacionam comigo. sou filha da minha mãe, a moça que passa na rua e ela não conhece é qualquer uma. não sou qualquer uma para meus amores, amigues, etc., mas definitivamente sou qualquer uma para todas as pessoas que não me conhecem, para as que só sabem que eu existo, mas não tem qualquer tipo de vínculo comigo.
então, como se pode dizer para alguém que você conheceu há 5 minutos e beijou há 3 que você “não é qualquer uma”?!
apenas não faz o menor sentido!
meu coração foi se enchendo de uma tristeza tão grande… como pode ser tão forte essa introjeção que vincula nosso valor e identidade a uma moral monogâmica e pudica (e um pouco hipócrita porque no fim, ninguém se “valorizou” porra nenhuma e a jiripoca piou legal…).
pelo amor, transem todos, vocês estão isolados numa mansão num paraíso natural aos 20 e poucos (ok, essa parte ainda não digeri), álcool liberado, festinhas, zero boletos para pensar, o mundo pegando lá fora e cs fazendo DR de casal com um boy aleatório que só fala merda?! serião, mana?
eu só queria assistir uma putaria leve, sabe… mas não, sou obrigada a me deparar com o mesmo bla bla bla conservador de gênero de sempre?!
para mim, a única definição de “não sou qualquer uma” possível é essa aqui
Diquinhas Com amor, Tay ❤
a pedagogia da piranhagem da minha amiga Marília
o episódio do Fio da Meada com a
esta edição aqui tá muito boa também e comentei em um notes um pouco das minhas próprias reflexões sobre o tema.
a edição da
à qual me refiro no texto é essa:
Memes que Curam Mais que Terapia
Bom, por hoje é só meu povo… aproveitem o restinho do feriado!
Com amor, Tay ❤️
Ahhhh e se você chegou agora, confere aqui a última edição dessa cartinha que sai toda semana (ou quase) com o compilado do meu mundinho.
Se você quiser ver mais fotos com textos e poemas de minha autoria falando de processos e metamorfoses, dá uma conferida no De quantas metamorfoses se faz uma vida?, meu projeto autoral de transformação pela arte.
Infelizmente a desquerida ficou famosa com isso e agora dá opiniões consideradas relevantes em temas em que ela só fala bosta, mas essa é outra conversa.