de Carolina de Jesus a Virginia Woolf, passando por Mônica Geller: minhas resoluções para 2025!
Pode parecer contraditório, para quem não me conhece mais a fundo, que eu seja uma "bullet point girl" (bom, não sou mais "girl" há bem uns 20 anos, mas vocês entenderam o que quis dizer...e se não entenderam, fica para o bolo que mais umas duas ou três news aqui você verá que está diante da maior control freak, pragmática, objetiva, prolixa que você respeita!).
Mas sim, eu sou!
Uma mulher de listas, de planos no papel (de preferência, mas pode ser na tela também!), de metas de curtíssimo, curto, médio e longo prazo. Costumava dizer que tinha plano A, B, C e D para tudo.
Nos meus diários de 20 anos atrás, você encontra detalhes de datas de promoção, número de filhos e ano em que eles nasceriam, e por aí vai...
Obviamente, pouquíssima coisa aconteceu exatamente como eu previ. Algumas passaram léguas de distância, outras foram mais próximas, mas é fato que a vida já me deu tombos e lições suficientes sobre a minha infinita pequenez diante dos imprevistos e desvios de percurso.
Mesmo assim, eu sigo fazendo planos excepcionalmente bem estruturados e, essa habilidade, para questões profissionais, sempre foi útil, especialmente porque, aliada à minha capacidade de execução, sempre fez de mim alguém que entrega muito e entrega bem.
Pelo menos até 2024 acontecer na minha vida…
Ser uma pessoa ansiosa, que pensa demais, que “precisa relaxar” é algo que faz parte da minha vida desde que me entendo por gente. Relendo meus diários de infância/adolescência hoje, sorri um sorriso triste de quem se dá conta de que está sofrendo há 30 anos (ou mais, pois nem sempre registrei ou guardei tudo o que foi registrado!) com sentimentos muito parecidos.
Estou acostumada com tudo isso e venho trabalhando em mim mesma com bastante dedicação para melhorar neste sentido e, por melhorar quero dizer principalmente sofrer menos porque se tem alguém que realmente precisa lidar com as consequências de ser assim, este alguém sou eu!
E enquanto o relógio virava para 00:01 de 2025, eu só conseguia pensar: sobrevivi a 2024!
Mais um ano que me provou (como se eu ainda precisasse de mais evidências!) que planejar demais e acreditar que conseguimos controlar todos os nossos passos ao longo do caminho, é a receita perfeita para a frustração.
Mais do que isso, o ano que me ensinou sobre limites, decepções, medo e responsabilidade e que me fez duvidar de absolutamente tudo o que eu achei que sabia.
E aí que hoje, lendo, pela milésima, vez um post com as resoluções da Virginia Woolf que apareceu no meu feed – que loucura a pessoa viralizar quase 100 anos depois! – me peguei pensando no meu processo atual de tratamento, dessa ansiedade que sempre me acompanhou como um carniceiro, sempre à espreita para me matar, e nos meus desejos para 2025.
Virginia, em 2 de janeiro de 1931, estabeleceu como resolução para o primeiro trimestre não ter resoluções – para não ficar amarrada a elas. Em seus lembretes, há um desejo de liberdade e leveza que ressoa em mim e certamente em muitas de nós:
Ser livre e gentil comigo mesma.
Não levar irritações a festas; sentar-me em particular lendo no estúdio.
Fazer um bom trabalho.
Parar de me irritar pela garantia de que nada vale a irritação.
Sair, sim – mas ficar em casa apesar de ser convidada.
Quanto a roupas, comprar boas.
É sim bonito e poético saber que Virginia sofria de angústias e tinha resoluções muito parecidas com as minhas. Ao menos com as de hoje.
Enquanto lia alguns dos meus diários e os meus sonhos de sumir de lá, de ser amada, de ter quem cuidasse de mim como prioridade, senti muita ternura por mim mesma.
Nessa caminhada que tem sido esse ciclo de autoconhecimento/compreensão/trabalho árduo/falhar/sofrer/se culpar/tentar se perdoar/dar tudo errado/recomeçar, frequentemente sou muito cruel com esta versão de mim mesma.
Afinal de contas, os privilégios que tenho hoje para trabalhar minhas questões e desafios internos mais difíceis não são, de certa forma, fruto justamente, da trajetória que me trouxe até eles?
Lembrei da Carolina de Jesus e da sua escrita que me marcou tanto quando a li pela primeira vez.
As angústias da Tayná dos diários são muito mais parecidas com as da Carolina (e peço licença para a analogia, evidentemente considerando meus privilégios de raça) do que com as da Virgínia, enquanto as de hoje são um reflexo de tudo aquilo que conquistei, abri na marra, no suor, lágrimas, muito trabalho para deixar para trás a menina da Vila Nova Cachoeirinha, depois imigrante (que nem roupas comprava, muito menos boas…), uma sobrevivente de muito abuso e dores físicas e emocionais.
Porque se hoje eu estou tentando aprender a boiar, não posso ser injusta com a Tayná ansiosa, estressada, perfeccionista, surtada e que me ensinou a mergulhar fundo em tudo.
Foi ela que me transformou muito mais em Virgínia do que em Carolina (licença poética aqui de novo, tá gente?!). E, assim como Virgínia sabia bem, há angústias e dores que não são curadas com bens e segurança materiais.
Tudo o que vivo e vivi me faz aprender algo e me transforma em uma mulher melhor. Ser controladora foi a minha ferramenta de defesa para sair do caos! Será que, se eu fosse “let it go” teria conseguido tudo isso?
A Tayná planejadora e ansiosa construiu a base para que a Tayná atual pudesse buscar ser mais livre e gentil consigo mesma. Ela me fez enfrentar desafios de frente e acreditar nos meus planos, mesmo quando pareciam impossíveis (e mesmo quando precisei replanejar a rota). Foi a minha famigerada teimosia insistência que abriu espaço para chegarmos até aqui. Foi ela que me tirou do sofrimento e me permitiu sobreviver.
E foi também assim que entendi que preciso - pelo menos tentar - desapegar do controle, por mais doloroso que isso possa parecer. A bem da verdade, achei que a maternidade já havia me ensinado que não temos controle sobre nada a não ser, justamente, sobre como iremos sair de uma experiência, mas essa é daquelas todas coisas que é muito mais fácil na teoria do que na prática.
Nem sempre plena, nem sempre surtada: talvez seja esse o ponto. Aprender a navegar entre os extremos, a reconhecer que tanto a calmaria quanto o caos têm espaço na minha vida. Há dias em que me sinto invencível, e outros em que a vulnerabilidade me domina. É sobre isso e está tudo bem, ou quase...
A vida nunca será sobre estar o tempo todo em equilíbrio, mas quero poder abraçar as nuances e os ciclos que me forjaram e me (re)constroem com mais amorosidade por todas as suas etapas.
Cada desafio enfrentado, cada memória guardada, cada saudade sentida é uma parte da história que continuo a escrever.
E por isso, celebro quem fui, quem sou e quem ainda estou me tornando.
Posso até aprender a boiar, mas jamais quero desaprender a mergulhar.
Aqui vai então a minha versão de cards motivador com resoluções para 2025!
É só ler o QR Code ou clicar no link da imagem pra ver os cards.
Com amor, Tay
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